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Cristiano Bento de Lima

crisbl2003@hotmail.com

Um bom coração em meu caminho

Um bom coração em meu caminho

Sempre costumo pensar que as pessoas de bom coração são as que fazem a diferença em nossas vidas, pois essas, muitas vezes ajudam a moldar o caráter daqueles que as cercam. Isso me fez acordar lembrando de um facto marcante: “Um auxílio num momento de angústia de uma criança”.

Desde muito cedo, todos os dias costumava, por bem ou por mal fazer os “mandados” de toda a família, coisas simples como comprar alimentos e remédios, pagar contas e cobrar as dívidas dos velhacos que deviam mixarias ao boteco da mamãe. Descia o alto rumo “à rua” na minha bicicleta acabada, surrada e horrorosa, mas que para mim era linda, fantástica, uma verdadeira motocicleta de alta cilindrada em minhas simulações de pilotagem durante o trajeto emocionante e em meio a complexidade dos adultos e de suas correrias.

Certo dia estacionei meu veículo como de costume na beira da calçada do Walter, resolvendo assim tudo aquilo que estava lá para fazer, mas aquela manhã não correria tudo bem como era costumeiro e rotineiro.

Aquele caminhão azul enorme, todo de ferro, pesado e sem nenhum sentimento acabou batendo, derrubando e amassando o selim e o guidão da minha amada e querida “bike” (a feia mais amada). Foi um choque aquele momento, calafrios e angústias cercaram minha cabeça naquele instante e a reação instantânea que tive foi correr desesperadamente atrás daquele cruel caminhão. Cada passo era mais uma apreensão pois começava a acreditar que não o alcançaria sem minha fiel escudeira que agora estava largada ao chão. Consegui alcançar, subindo de um pulo só na boleia. Cobrei então que pagasse pelos prejuízos que causara, mas o motorista sem coração não ouviria a reclamação de uma criança resmungona e futuramente chorona.

O que restou a mim? Chorar sobre a minha bicicleta em partes destruída. Lembra do começo do texto? Pois é, surgiu próximo a mim, e não sei de onde veio, uma senhora que repetidas vezes me disse: - Não chore! Não chore! Aquela senhora acalmou meu coração, ela me deu atenção a acalento. Alguns minutos depois, já mais calmo e com a respiração quase normal expliquei para ela tudo que aconteceu. Ela prontamente abriu sua carteira marrom, retirando os seis reais que resolveria o problema causador do choro e da apreensão, despedindo-se e mais uma vez repetindo por fim: - Não chore!

Por muitas vezes tento, luto e reluto para lembrar do rosto daquela senhora, mas não consigo. Por vezes depois de adulto tentei encontrá-la, mas não se encontra alguém sem lembrar seu rosto, restando apenas o amparo de saber que algo tão simples para alguém pode mudar o dia ou a vida de um próximo.

Dois fatos deste episódio trago comigo até hoje: Primeiro é saber que fazer o bem faz muito bem, tanto a quem recebe como a quem dá. Segundo, fico triste por ter esquecido aquele rosto tão especial, sabendo apenas que era doce, meigo e singelo, sinto como se eu não fosse grato o suficiente, mas aprendi na prática o primeiro fato graças a um bom coração, e isso me alegra.